Fracassado modelo de negócio de empresas de comunicação sustenta lógica do Facebook

Poucas vezes vi o tema “o impacto do algoritmo do Facebook no jornalismo” retratado com tanta clareza e diversidade de olhares, quanto neste artigo, publicado ontem, no NYT.

A reflexão ilumina questões urgentes para debate, como:
– a bolha algorítmica da desinformação
– o trabalho do editor versus a edição do teu amigo
– consumo de informação e engajamento
– marcas editoriais como anunciantes (ou notícia-produto)
– paywall (juro que sinto vergonha alheia em voltar a esse tema às barbas de 2015, enfim…)

No entanto, a maior constatação a que esse texto me leva não está na esfera editorial, senão nos negócios. Noutras palavras: o êxito do modelo de negócios fodástico que o Facebook consolidou e pelo qual faz o mundo babar só se sustenta pelo modelo antigo de sustentabilidade financeira de uma publicação jornalística: publicidade quantitativa. E isso fica muito claro neste trecho:

Facebook executives frame the company’s relationship with publishers as mutually beneficial: when publishers promote their content on Facebook, its users have more engaging material to read, and the publishers get increased traffic driven to their sites. Numerous publications, including The New York Times, have met with Facebook officials to discuss how to improve their referral traffic. The increased traffic can potentially mean that the publisher can increase its advertising rates or convert some of those new readers into subscribers.

Por “promote“, leia “comprar” visibilidade aos conteúdos no newsfeed. Logo, o esquema de publicidade do Facebook só funciona porque dirige nossas chamadas, sob pagamento, a pessoas que mais provavelmente clicarão nos nossos links. Com isso, empresas de comunicação, seguem buscando a massa, a quantidade de impressões.

Isso se tiverem sorte! Porque o modelo se trai.

Certa vez ouvi de alguém que trabalhava no Google que, quanto menos tempo o usuário passasse na página de busca, mais forte era o sinal de sucesso do produto. Lógica brilhante! E que não se aplica às redes sociais:

Social media companies like Facebook, Twitter and LinkedIn want their users to spend more time, or do more, on their services — a concept known as engagement, said Sean Munson, an assistant professor at the University of Washington who studies the intersection of technology and behavior.
Facebook officials say that the more time users spend at its site, the more likely there will be a robust exchange of diverse viewpoints and ideas shared online.

Eles tentam bancar os bons moços, generosos em fomentar o debate, a pluralidade de ideias e em ceder-nos audiência, ainda que seja muito bem paga e sirva de combustível para um modelo de negócio decadente, soterrado pelo esquema de publicidade instituído pelo próprio Facebook.

Insisto: ao contrário do Google, o Facebook é uma empresa de um produto só. Direcionar o usuário para outro site não é negócio pra eles. Essa rede é um fim em si mesma. Ainda que precise de conteúdo relevante para se sustentar – o que lhe suprimos com afinco e trabalho gratuito – não vai faltar quem compartilhe nossos links por lá. Ou seja, esse namorinho entre Facebook e as empresas jornalísticas é muito conversa pra boi dormir.

Resta ver até quando o mercado vai acreditar nessa mentirinha…

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Update 1: tks a lot ao Sérgio Ludtke e à Nívia Carvalho por terem compartilhado esse artigo comigo. (sorry, Serginho, estou num teclado castellano e não encontro o trema de jeito nenhum!)

Update 2: já que o assunto é modelo de negócio em redes sociais, acho válidas experiências com formatos inovadores, como o Tsu (sorry de novo pela falta de trema no Tsu) Veja também a análise do YouPix sobre essa rede que promete dividir a receita com os usuários.

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