Facebook: a maior empresa jornalística da história?

De carona com o lançamento recente de uma fanpage dedicada a divulgar boas práticas aos jornalistas na rede, o Facebook aparece no centro de uma polêmica interessante.

O momento mostra que hiperlocal é hype. E qual outro ambiente consegue se tornar tão segmentado em medidas ajustáveis do que as mídias sociais? Não por acaso, são espaços por onde circula, acontece e se busca muita notícia. Uma lógica possível pode ser essa: jornalismo + hiperlocal = rede social. Mas daí ao Facebook ser a maior empresa jornalística de todos os tempos faz sentido?

Joshua Gans, professor de economia da Melbourne Business School, não só acredita que sim como justifica com a noção do hiperlocal social, ou seja, a vizinhança não geográfica, mas agrupada em torno de interesses comuns – o que sempre estudamos como a base de qualquer comunidade online. O que muda, talvez, seja a escala do Facebook e outro aspecto curiosíssimo que, assim como este, é abordado pelo EditorWeblogs.org.

Fun and News

Um dos diferenciais mais significativos do Facebook enquanto ferramenta jornalística é a combinação de práticas sociais em um mesmo espaço. Mathew Ingram reduz o Twitter a sinônimo de jornalismo, como se o único propósito dos tuiteiros fosse buscar notícias por lá. Enquanto isto, no Facebook, o jornalismo se espalha num emaranhado de fotos divertidas, jogos em rede, conversa de amigos, aplicativos cute… ou seja, não é um espaço somente jornalístico. Mas cá entre nós: vocês vêem o Twitter como sinônimo integral de jornalismo? Eu confesso que não.

Ainda assim, a perspectiva destes caras parece fazer sentido, ainda que um tanto exagerada. Talvez caminhemos para esta configuração do jornalismo em mídias sociais. Talvez tenhamos que buscar fazer um jornalismo mais divertido – o que não é novo, vide os newsgames! – para manter a relevância no convívio social do público.

Tweets editoriais patrocinados

Não é de hoje que sou percebo certa incoerência em usuários de redes sociais se colocarem como espaços comerciais de mídia. Isso vem desde os probloggers com seus publieditoriais até tuiteiros cobrando – e bem! – por inserções publicitárias.

A razão é uma só: são indivíduos – e não marcas midiáticas vendendo espaços comerciais.

Estou na contramão de uma galera que considero gente fina por outras razões, tipo o Edney Souza, um dos precursores deste formato. Sem confundir com conteúdo customizado, publicidade em perfis de indivíduos em redes sociais me soam tão fakes quanto perfis de marcas no Orkut ou no Facebook – que são lugares de pessoas, com cor de olhos, cabelo, altura e preferência sexual, atributos que… bem… marcas não dispõem.

A caro custo, veículos de imprensa conseguiram (?) estabelecer uma limite entre o que é editorial e o que é publicitário, validando a venda de espaços comerciais ao lado de conteúdos pretensamente desinteressados por outras relações que excluam o compromisso com a verdade.

Bom, até na mídia convencional, igreja e estado ainda se confundem. Imagina em um ser humano, cujo compromisso deveria ser com a própria consciência, que gera a sua opinião.

Talvez por isso, alguns “protwitters” sejam arredios ao falarem sobre o assunto, como cita esta matéria no Estadão:

“Essa resistência em assumir o uso do microblog como mídia se justifica pela ideia cultivada pelos usuários de que os comentários só são críveis se forem espontâneos.
Mas a manipulação comercial é um fato, embora tuiteiros que cobram para divulgar mensagens publicitárias prefiram esconder o jogo.”

E se um perfil editorial vender inserções publicitárias? Quer saber? Acho mais natural. Ao menos é mídia vendendo mídia. E não ser humano vendendo opinião. (Em casos mais exagerados, vendendo até o corpo como mídia)

Por mais que a sinalização aconteça através de não tão claras hashtags do tipo #ad, aplaudo a iniciativa do perfil @igbeleza, do portal iG, em escancarar o jogo de que se trata de um tweet publicitário.

Depois de inquirir e ser inquirida tantas vezes sobre como extrair dinheiro das redes sociais no jornalismo, será essa uma tendência?

UPDATED: o ex-aluno e querido Maurício Tomedi comentou pelo Twitter sobre os ads do perfil @VFeminina. Disse a ele que ainda prefiro o tipo A do que o tipo B. Jogar limpo tem tudo a ver com mídias sociais. E quanto mais explícito for o anúncio, especialmente citando o perfil do anunciante como agente da mensagem, mais limpo o jogo será.

E isso me leva a pensar noutro formato, mas que ainda não encontrei por aí… O RT de mensagens publicitárias em perfis editoriais. Alguém já viu isso? Agradeceria por me indicar 🙂

Agora é concreto: Twitter não substitui blog

O semestre começou com a pergunta cruel: o Twitter vai matar os blogs?

Apesar da polêmica não ter se estendido por muito tempo – não havia porque se estender, afinal, já não fazia sentido – em agosto eu ainda procurava por dados concretos que sinalizassem a minha impressão de blogs e Twitter serem complementares e não substitutivos.

Eis que o 5º dia do relatório The State of Blogosphere, do Technorati, sepultou qualquer resquício que ainda havia sobre este debate.

65% dos blogueiros que usam Twitter declararam que a atividade no microblog não influenciou o tempo que dedicam à blogagem. 26% confessaram que o tempo que passam blogando diminuiu em função do Twitter.

Além disso, o uso prioritário que os blogueiros fazem do Twitter é… promover o próprio blog! Daí não há sentido falar em substituição de plataformas.

Outros usos comuns do Twitter pelos blogueiros são:
– indicar links interessantes
– descobrir o que há de buzz
– divulgar seus negócios, seus projetos profissionais
– interagir com empresas
– falar com políticos
– contatar celebridades

It means: há boa diferença entre o que a população faz do Twitter e os usos possíveis do blog (agregação de conteúdo, análise, discussão aprofundada, uso artístico etc).

Mas o número mais bacaninha se remete à medição do sucesso de um blog: os índices mais altos estão no item SATISFAÇÃO PESSOAL. E isso fica difícil de mudar de uma hora pra outra 😉

70% dos jornalistas usam mídias sociais

Uma pesquisa feita com 317 jornalistas de Nova York pela agência Middleberg (SNCR) apontou que 70% dos jornalistas admitem usar mídias sociais no auxílio da prática da reportagem. O número sobe para 92% quando jornalistas reconhecem que as mídias sociais agilizam a rotina da redação.

Apesar da amostragem pequena, o índice é otimista, ainda mais se comparado ao do ano anterior, quando apenas 41% usavam estas plataformas

social media

Veiculada na PRWeek, a pesquisa também mostrou que:
– 66% destes jornalistas usam blog
– 51% usam a Wikipedia
– 48% recorrem a vídeos online
– 47% usam Twitter ou outros serviços de microblogging
– 57% percebem que o Twitter ajudou a aumentar sua credibilidade perante os leitores

Boa parte do uso destas mídias é para entrevistas, crowdsourcing e buscando dicas de pauta.

Jeremy Poter analisa os resultados em seu sites e entende que uma das razões destes índices elevados do uso de mídias sociais é decorrência do acúmulo de trabalho e da rapidez com que as reportagens devem ser produzidas.

Mas a pesquisa não acabou e o resultado final chega em Novembro.

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Imagem de Matt Hamm

Mídias sociais aproximam governo de SP aos cidadãos

Ando encantada pela variabilidade dos usos das mídias sociais.

Ainda no Intecom, há 15 dias, o Fábio Malini (UFES) iniciou uma discussão sobre governabilidade digital a partir de modelos P2P.

Agora encontrei essa notícia listando as presenças de várias instâncias do Governo do Estado de São Paulo em mídias sociais.

As redes estão assim eleitas:
1º) Twitter
2º) Facebook
3º) Flickr + YouTube
4º) Orkut
5º) SMS + WAP

Entre as estratégias que mais despertaram a minha atenção estão o envio de ofertas de vagas de emprego pelo EmpresaSP por SMS, adequadas ao perfil do dono do celular. Mas isso já existe No ranking do “uso curioso” – não exatamente um mérito – estão as comunidades no Orkut…

Essa semana ainda dei aulas na Famecos sobre mídias sociais aplicadas ao jornalismo e uma das coisas que discutimos foi a inoperância de perfis de MARCAS num lugar essencialmente ocupado por PESSOAS.

Marcas se pronunciam.
Pessoas conversam.
E isso são ações quase contraditórias.

(Keynote feito em parceria com Marcelo Trasel)

Pois algumas comunidades de órgãos do Governo de SP estão usando os tópicos das comunidades do Orkut e do Facebook para… se pronunciarem. E não para conversarem. Até porque ainda está baixa a adesão do público à “conversa”. Afinal… a gente conversa com marcas? Ou com PESSOAS que estão por trás das marcas? Quem dá a cara à tapa?

Os Twitters estão mais coerentes. É que o Twitter se presta para “emissão-e-somente-isto”. De um jeito ou de outro, o Governo do Estado de São Paulo está mais do que de parabéns pelas iniciativas todas. Só resta, agora, aprimorar um pouco mais o diálogo pois, no fim das contas, essas são mídias sociais.

Morte dos blogs: menos barulho e mais foco

Então a morte da blogosfera é o novo buzz.

A ideia ganhou força no Link do Estadão. Observando o âmbito nacional ou além, sinto-me no dever de explorar mais este tema, aproveitando para atender ao convite* do querido Jorge Rocha.

Antes de mais nada, a discussão me parece non-sense, uma vez que a blogosfera NÃO ESTÁ NO FIM.

Ainda assim, mero buzz ou não, não acho ruim pararmos de vez em quando para analisar o andar da carruagem. De fato, surgiu uma série de novas ferramentas sociais, sustentadas pelo UGC, mas nem de longe fazem frente ao blog.

Não se trata do blog ser melhor ou pior. São coisas diferentes, somente!

Mais do que diferentes, Twitter, Flickr, YouTube, blogs e que tais são COMPLEMENTARES, tal como diz a Beth Saad:

O termo complementariedade é fundamental. Cada uma das ferramentas – blog, twitter, facebook, por exemplo, possuem características próprias de estilo narrativo e forma de relacionamento com os leitores/usuários/seguidores.

Adoro conversar com o Rodrigo Martins, do Link. Ele não só faz perguntas instigantes sobre temas super atuais, como não deixa de lado a “pimentinha” da pauta. E daí ele entabulou a conversa do blog como “movimento”.

Entendo que “movimento” seja um termo grandioso demais para designar os barulhos – ou mais uma vez, o buzz – produzido por um grupo de blogueiros que, em algum momento, quiseram ser “profissionais de uma ferramenta só”.

Sim, porque… blog é tão-somente uma FERRAMENTA. Como ferramentas não fazem profissionais – e sim o seu patrimônio intelectual, sua formação, a relevância daquilo que produz – pró-blogger não existe nem nunca existiu.

Fato é, no entanto, que esse “momento irritantemente barulhento” da blogosfera brasileira aconteceu por blogueiros querendo ser profissionais. E para percebermos que a culpa da irritação não é do blog – e sim de quem está por trás dele – outro “momento irritantemente barulhento” está por vir no Twitter.

Ocorre que todo o trabalho possível de ser produzido em mídias sociais como blogs ou no Twitter nunca poderá ser reduzido a um barulho infernal de gente querendo parecer mais do que é.

Sim, mídia social é lugar para ver e ser visto. Mas mesmo para alcançar este objetivo não basta ESTAR PRESENTE nestas mídias fazendo qualquer micagem. A audiência qualifica-se à medida em que a informação se aprimora, as fontes se multiplicam (assim aconteceu a reforma protestante).

Com a proliferação de plataformas sociais, a concorrência informacional ficou tão maior que está mais difícil distinguir bons e maus blogueiros, bons e maus twitteiros, bons e maus flickeiros…

Piorou? Não. O aumento da filtragem da informação é uma tendência natural do ciberespaço. Que estejamos mais atentos, pois!

O resultado dessa história só veremos daqui a um tempo, no entanto. Por enquanto, observações de perto. Sem maiores alardes porque a coisa não promete ir muito longe.

* Também estão convidados a discutir este tema Alec Duarte, Marcelo Soares, Marcelo Soares, Alessandra Carvalho e Daniela Bertocchi.

Tudo do Twitter num e-book só

tudo_do_twitter

Ju Spyer ataca novamente e lança Tudo do Twitter, um guia contendo definições, dicas de uso e boas práticas para pessoas físicas e organizações explorarem o melhor desta ferramenta.

O e-book será lançado – por óbvio – no Twitter mesmo, nesta segunda, dia 10, às 16h.

O livro é grátis!

Com mais este projeto, o Ju Spyer consolida ainda mais seu nome em iniciativas relevantes de popularização da tecnologia, disseminando conhecimentos e boas práticas da rede que começaram, aos meus olhos, lá no SP450 (que depois virou VIVASP) e tem pontos marcantes no Conectado e no Para entender a internet.

Fica de olho! Vai ser só baixar e curtir 🙂

Dados do livro

* Título: Tudo o que você precisa saber sobre o Twitter
* Autor: Juliano Spyer
* Criação: Talk Interactive
* Páginas: 110
* Link para post: http://migre.me/4Nxc